Meu grande
amigo morreu. E foi tão de repente! Ninguém estava esperando, ele estava tão
feliz! Tinha planos para um futuro bem próximo. Acabou de concluir a faculdade
e já tinha emprego em vista. Diante desta morte tão estúpida, fico pensando o
que eu faria se acontecesse comigo. Como eu iria encarar esta tal morte. Ainda mais
agora, chegando o Natal, um novo ano se aproximando e tanta coisa pra fazer. Essa
ideia não sai mais da minha cabeça. E se acontecer comigo?
Gisele ficava
remoendo a ideia da morte em seus pensamentos diariamente, não pensava em outra
coisa. Começou a se entristecer e todos os amigos notaram e ficaram
preocupados. Será que ela estava tendo um pressentimento?! Isso acontece com
muita gente.
Arrumando
suas gavetas, Gisele encontrou um envelope cheio de fotografias e começou a
rememorar. Viu a fotografia de seu grande amigo e seu coração ficou muito
apertado. Imagine só se ele viesse buscá-la!
Perdida em
seus pensamentos, Gisele recostou-se na cama e acabou adormecendo até que
sentiu um leve toque em seu ombro. Gisele abriu os olhos assustada e viu um
senhor estranho, porem simpático ao seu lado. Assustada perguntou:
_ Quem é o
senhor? O que faz aqui em meu quarto?
_ Vim
buscá-la Gisele, está na hora de você fazer aquela viagem?
_ Viagem? Que
viagem? Eu não marquei nada com o senhor e nem te conheço! Falou desesperada.
_ Calma Gisele!
Esta viagem não é você quem marca, somos nós. E quanto ao fato de não me
conhecer, você está um pouco esquecida, é normal, muito tempo no corpo!
_ Como
assim, muito tempo no corpo?! Eu só tenho 23 anos de idade.
_ É uma boa
idade para fazermos esta viagem. Tenho certeza que daqui a pouco você vai
concordar comigo.
_ Eu não
teria tanta certeza se fosse o senhor. E, eu não quero ir.
_ Mas
precisa. Venha!
Uma força irresistível
atraiu Gisele para seguir em companhia do simpático senhor. Ele levou-a para um
longo passeio. Viram lugares que Gisele frequentava e pessoas que ela conhecia
muito bem. Estava uma tarde bonita e as pessoas estavam em suas atividades
costumeiras. Gisele sentiu uma sensação muito estranha. Tentava falar com as
pessoas, tocá-las e ninguém a percebia. Pensou que acontecera com ela o que ela
mais temia.
Depois de
muitos lugares visitarem o simpático senhor levou Gisele até um lindo jardim,
tranquilo e muito agradável. Sentaram em um banco e começou a falar sobre o
assunto mais temido por ela no momento:
_ Gisele,
sei o quanto certo assunto tem te atormentado nos últimos dias. – ela fez sinal
afirmativo com a cabeça – E sei também, que uma dúvida está norteando seus
pensamentos agora, não é?
_ Sim. E o
senhor pode me esclarecer pelo amor de Deus!
_ Vou
tentar. Você trouxe sua carta de apresentação espiritual.
_ Que
carta? Não sei de carta nenhuma.
_ A carta
onde você se apresenta, onde você registra todas as suas ações enquanto encarnada.
Tudo que você construiu, de bom e de ruim e que vai nos ajudar a encontrar o
lugar ideal no seu período de adaptação pós-morte do corpo e suas tarefas
posteriores. Espero que tenha muitas coisas boas registradas nela!
_ Mas eu
não tenho carta nenhuma. Não sabia disso. Aliás, não me preparei para a morte,
não me preocupei com carta alguma!
_ Isso
acontece com muita gente! Vive a vida como se a morte do corpo nunca fosse
chegar. Não se prepara para ela e a vê como um “bicho papão”. As pessoas fazem
planos todo final de ano, prometem coisas a si mesmas e não cumprem quase nada.
Nem se lembram. Igualzinho quando reencarnam, fazem promessas, planos e
esquecem, fogem quando a possibilidade de realização chega. Mas, vou te dar
algum tempo pra isso. – Gisele sorri aliviada até que ele tira do bolso papel e
lápis e entrega, o sorriso vai embora.
_ É só
começar a registrar agora para que possamos analisar.
_ Então...,
isso quer dizer... que eu... já fiz a passagem?
_ Você está
perdendo tempo menina. Registre aí suas ações.
Gisele começa
a tremer e a pensar no que iria escrever. Não conseguia lembrar-se de nada que
tivesse feito que valesse a pena. Era como uma prova de vestibular. Era tudo ou
nada. Se não tem ações boas para onde seria levada. Mas, não é possível que não
tivesse feito nada de bom. É claro que fez! Mas o que valeria a pena registrar?
Vendo que o
tempo passava e sentindo o tormento que a invadia, o simpático senhor acariciou
seus cabelos e disse:
_ Já está
bom Gisele.
_ Mas eu
não escrevi nada!
_ Pois é. Já
está bom para termos uma conversa. Você já está há 23 anos encarnada e ainda
não se preocupou com a vida que está levando, que dirá com a morte do corpo. Já
se sente adulta para tantas coisas, mas não me parece nada responsável. Se eu
te disser que seu corpo já não te serve mais para esta experiência como será
sua vida espiritual com uma carta em branco ou com poucas linhas de cores
cinza? Seu amigo retornou e isso te preocupou. Qualquer um pode retornar em
qualquer momento da vida. Não precisa estar doente, sofrer acidentes, nada. Quando
chega a hora...! – Gisele sente-se envergonhada.
_ A nossa
viagem é um momento de reflexão, não é definitiva. – que alívio, pensou Gisele.
_ O senhor
pode me explicar melhor.
_ Você vai
retornar ao seu corpo que está apenas dormindo e vai lembrar parcialmente da
nossa conversa como um sonho. Vai ficar registrado em sua mente a carta de apresentação espiritual. Sugiro
que você comece a escrever todas as suas ações e destaque a que considerar
ponto de referência positivo para constar em sua carta de apresentação
espiritual. Busque enriquecê-la. Lembre-se que, quando chegar a hora de sua
viagem definitiva, nada de suas conquistas materiais irão te acompanhar. Você vai
levar apenas as conquistas morais. Continue a desenvolver-se intelectualmente,
mas utilize o seu aprendizado para o bem comum, isso enriquecerá seu currículo.
Agora vamos, já é hora de retornar.
Na viagem
de volta, Gisele reparou coisas que nunca tinha notado. As pessoas nas ruas, a
Natureza, o lugar onde mora, tudo tinha um novo colorido. Seu coração estava
mais leve. Chegando ao quarto deu um grande abraço no simpático senhor e
perguntou:
_ O senhor
não me disse quem é. Eu já o conheço de algum lugar?
_ Sou seu
anjo da guarda Gisele. Estou sempre pertinho de você e, quando precisar de mim,
é só chamar.
Gisele sentiu
alguém tocar seu ombro de leve, era sua mãe.
_ Isso é
hora de dormir menina?! Dormindo em cima das fotografias, amassando tudo! Você esqueceu
que tem um compromisso hoje?
_ É mesmo mamãe,
obrigada.
Gisele percebeu
que estava segurando a foto de seu amigo e lembrou-se do sonho que teve. Lembrou
que um senhor simpático dizia que ela precisava escrever uma carta de
apresentação, mas para que? Conforme o dia ia passando algumas coisas iam
surgindo na mente de Gisele. Já era uma mulher feita, precisava ter um rumo na
vida, construir coisas boas, ter o que ensinar a seus filhos que certamente virão.
Ninguém sabe o dia de amanhã!
***
A nossa
viagem reflexão não precisa acontecer após uma perda, um sofrimento. Nem precisa
chegar o mês de dezembro para planejarmos a vida que precisamos ter. Podemos
começar a qualquer momento.
Se desejar,
vá para um lugar agradável, olhe o céu, coloque uma musica suave e comece a
refletir. Pense em seu anjo da guarda e ele te ajudará neste momento.
Não deixe
pra amanhã, pois quem sabe quando a nossa carta
de apresentação espiritual será solicitada.
Beijos,
Preta