terça-feira, 28 de agosto de 2012

O mal que me aflige


“Não há coração tão perverso que, mesmo a seu mau grado, não se mostre sensível ao bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo menos, todo pretexto às represálias, podendo-se até fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua morte. Com um mau proceder, o homem irrita o seu inimigo, que então se constitui instrumento de que a justiça de Deus se serve para punir aquele que não perdoou.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo” — Capítulo 12º — Item 5.

***
              
Ele era um homem bom: Trabalhador, íntegro, amigo, pai de família exemplar. Por que sofria tanto? Havia época em que seu sofrer físico era intenso e isso o deixava atordoado. Quantas vezes esses tormentos o impediram de exercer sua profissão como devia! Quantas vezes esses tormentos o tornaram uma pessoa sisuda, não por que era antipático, mas sim porque a dor, o mal estar era intenso.
               Recorreu a médicos variados na busca de uma solução para seu mal, mas nada!
               Religioso, buscou a sua crença na tentativa de aliviar suas dores e compreender o que se passava com ele.
               Espírita, já conhecia a lei de causa e efeito e compreendia que era necessário refazer caminhos, replantar jardins, estender a mão aos caídos de outrora.

***
               Sim, qual de nós não tem uma história pregressa? Qual de nós não deixou lá atrás algo obscuro, algo inacabado?
               Sabemos também que ninguém é totalmente mau e que, deixamos também boas lembranças, bons amigos, bons atos que nos propiciam hoje uma ancora capaz de nos “salvar” de quedas, de nos possibilitar reerguimento.
               Jesus curou cegos, paralíticos e obsidiados. A doutrina espírita nos orienta sobre recursos terapêuticos como o passe, o atendimento fraterno, as reuniões de socorro espiritual, a prece, que aliviam, higieniza a mente, fortalecem o ser possibilitando a sua melhoria. Mas esclarece também a necessidade da transformação íntima, da mudança de atitude, da busca do crescimento espiritual. Isso tudo não nos isenta da responsabilidade por ser esta consequência de nossos atos de outrora, mas nos ajuda na compreensão e, possivelmente, diante de nossa real transformação, nos possibilita reescrever o final dessa história com resgates em forma de ações pelo bem comum, pelo bem daquele que hoje se acha no direito de nos cobrar.

***
               Nosso amigo então buscou em sua casa espírita um pouco de alento e, enquanto aguardava o início da reunião de estudo doutrinário, embalado por música suave, elevou o pensamento em prece a Jesus pedindo forças e esclarecimento. Sentiu como se uma energia suave o banhasse por inteiro e um grande alívio tomou conta de seu ser. O coração ficou leve e a sensação de confiança se fortaleceu.
               O palestrante da noite falou sobre as causas atuais e anteriores das aflições e nosso amigo pensou o que normalmente todos pensamos: parece que esse estudo foi feito em minha intenção.
               Refletiu sobre o que sentia e não encontrou nada que justificasse tal sofrer. Concluiu então que o mal de hoje era consequência do passado que não tinha lembrança.
               Buscou o atendimento fraterno de sua casa na tentativa de uma informação mais precisa embora soubesse que o esquecimento é uma bênção dada por Deus a todos nós. Refletindo junto com o atendente nos ensinamentos doutrinários, percebeu que ainda existiam pontos marcantes em sua vida que necessitava de mudança e que precisava também plantar flores no coração de quem possivelmente deixou espinhos – seu esquecido algoz.
               Resoluto, a partir daquele momento, passou a orar todos os dias por aqueles que, por ventura, tenha feito mal, nesta ou em outra existência. Buscou também reservar em sua agenda, um horário para atendimento as necessidades das pessoas mais carentes através de suas habilidades profissionais e sempre que surgia oportunidades, beneficiava também com um pouco de atenção às pessoas solitárias com necessidades de conversa, fosse na rua, em ambiente de trabalho ou em instituições de amparo.
               Com o tempo, foi percebendo que suas dores tornaram-se menos intensas e um novo médico encontrou tratamento adequado para a sua rara doença agora detectada.
               Sua atitude possibilitou que seu algoz aceitasse atendimento na casa espírita sendo encaminhado pela espiritualidade amiga a tratamento espiritual passando a interessar-se por seu crescimento espiritual, avaliando o tempo que perdeu ao tornar-se companhia inseparável de seu malfeitor de outrora.
               E nosso amigo seguiu a sua vida crescendo no dia a dia através das novas realizações e aprendizados que a existência na carne proporciona a todos nós.

***
               Assim é a nossa vida!
               Precisamos também nós, olharmos com atenção ao que nos aflige. A sua causa e o que estamos fazendo para solucionar tais aflições. Muitas delas não são de outrora como a história de nosso amigo, mas sim de agora. De nossas atitudes atuais, nossas escolhas.
               Vivemos ainda como se a vida fosse única embora saibamos que não é. Sabemos que temos um passado e que o futuro está sendo escrito por nós hoje. Vamos escrever nossa história com o coração sem esquecer de usar a razão, atributo do Espírito que somos. E quanto ao nosso passado, oremos por todos que fizeram parte dele e busquemos mostrar com nossa atitude que, se ainda não mudamos, estamos dispostos a mudar.

               Beijos,
               Preta    

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O que você seria capaz de fazer para pedir perdão?



Uma mulher doou um rim para a ex-sogra como "pedido de perdão" pelo sofrimento causado quando ela abandonou o marido oito anos atrás.
Erica Arsenault, de 42 anos, viu o apelo por um rim feito por Dorothy Wolferseder, de 73, no Facebook da ex-cunhada e imediamente entrou em contato.
Exames mostraram a compatibilidade e então as duas foram para a sala de cirurgia em Massachusetts (EUA).
A doadora não considerou o gesto um exemplo de altruísmo, mas sim uma penitência pela forma como tratara o filho de Dorothy antes da separação.
Scott Wolferseder, de 49 anos, o ex-marido, disse ao "Boston Globe" por que Erica se submeteu à arriscada cirurgia:
"Foi por causa da dor que ela causou não só a mim, mas aos nossos dois filhos e à minha mãe. Esta foi a forma de consertar as coisas".
Erica e Scott se casaram em 1993 e se divorciaram oito anos depois. Os detalhes da separação continuam em segredo.
A doadora se casou novamente e teve total apoio do atual marido para fazer a cirurgia e ajudar a ex-sogra. O transplante foi um sucesso.

*****
                 Uma bela forma de pedir perdão: salvar a vida!
         Quando conseguimos perceber que nossa atitude causou mal a alguém sentimos uma necessidade de retroceder, de fazer diferente. Mas, apagar o que foi feito ou dito não é possível. Como aquela mensagem tão conhecida nos ensina, depois que amassamos uma folha de papel, por mais que tentemos alisá-la, ela nunca mais será a mesma. O que fazer então?
             Lemos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo X, item 5: Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. - Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil. (S. MATEUS, cap. V, vv. 25 e 26.). Esta companheira fez exatamente isto, não deixou pra depois. E fez isso de uma forma bem difícil, deu uma parte de si, de seu corpo. Fez feliz àquela que sofria fisicamente e aos seus familiares que temiam por sua vida. Mostrou que compreendeu o sentido da vida, da amizade. Compreendeu aquele outro ensinamento de Jesus contido no mesmo livro, capítulo XI, item 1: (...) "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. - Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos." (S. MATEUS, cap. XXII, vv. 34 a 40.)
              
               Quantas vezes ofendemos nossos irmãos e nem mesmo percebemos? E quando percebemos, não temos coragem de pedir perdão, fingimos que nada aconteceu. Mas, vez por outra, somos traídos por nossa consciência que nos apresenta o fato à lembrança como a nos dizer que deixamos para trás algo inacabado. E, por mais que tentemos ignorar a nossa consciência, ela torna a nos surpreender com a lembrança do fato, sem explicações plausíveis ou diante de algum fato semelhante que assistimos, um relato que ouvimos. E quando insistimos em ignorar e resolvemos passar por cima desta lembrança, adiamos esta reconciliação para, talvez, outra encarnação. Neste caso, graças ao esquecimento do passado, certamente perguntaremos: por que meu Deus, este sofrer? Que mal eu fiz para merecer isto?!

               Historias como essa, nos levam a refletir em nossas atitudes, no sentido que damos a vida.
               Se já compreendemos que esta existência é apenas uma vírgula em nosso livro da vida e que muitas vírgulas, pontos, parágrafos virão para construir a nossa história; que está em nosso poder transformar esta história quantas vezes acharmos necessário mudando seu final, já está na hora de ao menos começarmos a pensar o que faremos para viabilizar esta reconciliação enquanto estamos por aqui. Que maneira encontraremos de pedir perdão àqueles que ofendemos. E isso serve para as grandes e pequenas ofensas.
               É bem provável que ainda não consigamos doar uma parte de nosso corpo, mas podemos fazer alguma coisa, não acham?!
             Iniciemos este processo de reflexão orando a Jesus e pedindo a ele força, clareza de raciocínio e muita coragem para tomar a atitude correta.
               Que Ele nos abençoe e nos ajude a termos êxito nesta empreitada.
               Boa reflexão.

               Preta