terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Carta de apresentação espiritual



Meu grande amigo morreu. E foi tão de repente! Ninguém estava esperando, ele estava tão feliz! Tinha planos para um futuro bem próximo. Acabou de concluir a faculdade e já tinha emprego em vista. Diante desta morte tão estúpida, fico pensando o que eu faria se acontecesse comigo. Como eu iria encarar esta tal morte. Ainda mais agora, chegando o Natal, um novo ano se aproximando e tanta coisa pra fazer. Essa ideia não sai mais da minha cabeça. E se acontecer comigo?
 
Gisele ficava remoendo a ideia da morte em seus pensamentos diariamente, não pensava em outra coisa. Começou a se entristecer e todos os amigos notaram e ficaram preocupados. Será que ela estava tendo um pressentimento?! Isso acontece com muita gente.
Arrumando suas gavetas, Gisele encontrou um envelope cheio de fotografias e começou a rememorar. Viu a fotografia de seu grande amigo e seu coração ficou muito apertado. Imagine só se ele viesse buscá-la!
Perdida em seus pensamentos, Gisele recostou-se na cama e acabou adormecendo até que sentiu um leve toque em seu ombro. Gisele abriu os olhos assustada e viu um senhor estranho, porem simpático ao seu lado. Assustada perguntou:
_ Quem é o senhor? O que faz aqui em meu quarto?
_ Vim buscá-la Gisele, está na hora de você fazer aquela viagem?
_ Viagem? Que viagem? Eu não marquei nada com o senhor e nem te conheço! Falou desesperada.
_ Calma Gisele! Esta viagem não é você quem marca, somos nós. E quanto ao fato de não me conhecer, você está um pouco esquecida, é normal, muito tempo no corpo!
_ Como assim, muito tempo no corpo?! Eu só tenho 23 anos de idade.
_ É uma boa idade para fazermos esta viagem. Tenho certeza que daqui a pouco você vai concordar comigo.
_ Eu não teria tanta certeza se fosse o senhor. E, eu não quero ir.
_ Mas precisa. Venha!
Uma força irresistível atraiu Gisele para seguir em companhia do simpático senhor. Ele levou-a para um longo passeio. Viram lugares que Gisele frequentava e pessoas que ela conhecia muito bem. Estava uma tarde bonita e as pessoas estavam em suas atividades costumeiras. Gisele sentiu uma sensação muito estranha. Tentava falar com as pessoas, tocá-las e ninguém a percebia. Pensou que acontecera com ela o que ela mais temia.
Depois de muitos lugares visitarem o simpático senhor levou Gisele até um lindo jardim, tranquilo e muito agradável. Sentaram em um banco e começou a falar sobre o assunto mais temido por ela no momento:
_ Gisele, sei o quanto certo assunto tem te atormentado nos últimos dias. – ela fez sinal afirmativo com a cabeça – E sei também, que uma dúvida está norteando seus pensamentos agora, não é?
_ Sim. E o senhor pode me esclarecer pelo amor de Deus!
_ Vou tentar. Você trouxe sua carta de apresentação espiritual.
_ Que carta? Não sei de carta nenhuma.
_ A carta onde você se apresenta, onde você registra todas as suas ações enquanto encarnada. Tudo que você construiu, de bom e de ruim e que vai nos ajudar a encontrar o lugar ideal no seu período de adaptação pós-morte do corpo e suas tarefas posteriores. Espero que tenha muitas coisas boas registradas nela!
_ Mas eu não tenho carta nenhuma. Não sabia disso. Aliás, não me preparei para a morte, não me preocupei com carta alguma!
_ Isso acontece com muita gente! Vive a vida como se a morte do corpo nunca fosse chegar. Não se prepara para ela e a vê como um “bicho papão”. As pessoas fazem planos todo final de ano, prometem coisas a si mesmas e não cumprem quase nada. Nem se lembram. Igualzinho quando reencarnam, fazem promessas, planos e esquecem, fogem quando a possibilidade de realização chega. Mas, vou te dar algum tempo pra isso. – Gisele sorri aliviada até que ele tira do bolso papel e lápis e entrega, o sorriso vai embora.
_ É só começar a registrar agora para que possamos analisar.
_ Então..., isso quer dizer... que eu... já fiz a passagem?
_ Você está perdendo tempo menina. Registre aí suas ações.

Gisele começa a tremer e a pensar no que iria escrever. Não conseguia lembrar-se de nada que tivesse feito que valesse a pena. Era como uma prova de vestibular. Era tudo ou nada. Se não tem ações boas para onde seria levada. Mas, não é possível que não tivesse feito nada de bom. É claro que fez! Mas o que valeria a pena registrar?
Vendo que o tempo passava e sentindo o tormento que a invadia, o simpático senhor acariciou seus cabelos e disse:
_ Já está bom Gisele.
_ Mas eu não escrevi nada!
_ Pois é. Já está bom para termos uma conversa. Você já está há 23 anos encarnada e ainda não se preocupou com a vida que está levando, que dirá com a morte do corpo. Já se sente adulta para tantas coisas, mas não me parece nada responsável. Se eu te disser que seu corpo já não te serve mais para esta experiência como será sua vida espiritual com uma carta em branco ou com poucas linhas de cores cinza? Seu amigo retornou e isso te preocupou. Qualquer um pode retornar em qualquer momento da vida. Não precisa estar doente, sofrer acidentes, nada. Quando chega a hora...! – Gisele sente-se envergonhada.
_ A nossa viagem é um momento de reflexão, não é definitiva. – que alívio, pensou Gisele.
_ O senhor pode me explicar melhor.
_ Você vai retornar ao seu corpo que está apenas dormindo e vai lembrar parcialmente da nossa conversa como um sonho. Vai ficar registrado em sua mente a carta de apresentação espiritual. Sugiro que você comece a escrever todas as suas ações e destaque a que considerar ponto de referência positivo para constar em sua carta de apresentação espiritual. Busque enriquecê-la. Lembre-se que, quando chegar a hora de sua viagem definitiva, nada de suas conquistas materiais irão te acompanhar. Você vai levar apenas as conquistas morais. Continue a desenvolver-se intelectualmente, mas utilize o seu aprendizado para o bem comum, isso enriquecerá seu currículo. Agora vamos, já é hora de retornar.
Na viagem de volta, Gisele reparou coisas que nunca tinha notado. As pessoas nas ruas, a Natureza, o lugar onde mora, tudo tinha um novo colorido. Seu coração estava mais leve. Chegando ao quarto deu um grande abraço no simpático senhor e perguntou:
_ O senhor não me disse quem é. Eu já o conheço de algum lugar?
_ Sou seu anjo da guarda Gisele. Estou sempre pertinho de você e, quando precisar de mim, é só chamar.
Gisele sentiu alguém tocar seu ombro de leve, era sua mãe.
_ Isso é hora de dormir menina?! Dormindo em cima das fotografias, amassando tudo! Você esqueceu que tem um compromisso hoje?
_ É mesmo mamãe, obrigada.
Gisele percebeu que estava segurando a foto de seu amigo e lembrou-se do sonho que teve. Lembrou que um senhor simpático dizia que ela precisava escrever uma carta de apresentação, mas para que? Conforme o dia ia passando algumas coisas iam surgindo na mente de Gisele. Já era uma mulher feita, precisava ter um rumo na vida, construir coisas boas, ter o que ensinar a seus filhos que certamente virão. Ninguém sabe o dia de amanhã!

***
A nossa viagem reflexão não precisa acontecer após uma perda, um sofrimento. Nem precisa chegar o mês de dezembro para planejarmos a vida que precisamos ter. Podemos começar a qualquer momento.
Se desejar, vá para um lugar agradável, olhe o céu, coloque uma musica suave e comece a refletir. Pense em seu anjo da guarda e ele te ajudará neste momento.
Não deixe pra amanhã, pois quem sabe quando a nossa carta de apresentação espiritual será solicitada.

Beijos,
Preta



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